O vento cortante das montanhas balcânicas levanta a poeira do cemitério judeu mais antigo dos Balcãs. Caminho entre lápides que descem a colina de Kovači como um rebanho de pedras cansadas. De repente, paraliso: ali, gravado no mármore musgoso, brilha o nome "PEREIRA". Mais adiante, "CARDOZO" emerge sob líquenes. Depois "BENVENISTE". São sílabas familiares em terra estranha, ecos de um Portugal e Espanha que estas ossadas carregaram no exílio. Coloco a mão sobre as letras gélidas. Neste instante, cinco séculos desmoronam. Foi em 1492, enquanto Colombo navegava para o desconhecido, que os primeiros navios de judeus sefarditas expulsos pela ânsia purificadora dos Reis Católicos atracaram em Dubrovnik. O sultão otomano Bayezid II, pragmático e visionário, enviou sua frota ao resgate. Diz a lenda que ao ouvir notícias da expulsão, comentou: "Vocês chamam Fernando de sábio? Ele empobrece seu reino para enriquecer o meu!". Assim chegaram a Sarajevo, mé...
Esta página é um arquivo virtual que reúne minhas reflexões sobre minha mobilidade acadêmica na Bósnia e Herzegovina durante os anos de 2023 e 2024. Os textos aqui apresentados são impressões pessoais, não se propondo a representar a realidade de forma absoluta, mas um convite à reflexão sobre essa experiência.