O sol da tarde desenha ângulos agudos sobre os blocos de concreto de Gbravica, em Sarajevo. Caminho entre edifícios que se erguem como esculturas funcionais, linhas retas, varandas suspensas, pilotis que sustentam não apenas estruturas, mas histórias. Há algo de profundamente familiar neste cenário. Talvez seja a sombra dos pilotis, idênticos aos da Asa Norte de Brasília, onde nasci. Ou talvez seja o ritmo das fachadas, aquela gramática modernista que fala uma língua que meu corpo reconhece antes mesmo que minha mente decifre. A arquitetura iugoslava na Bósnia é um paradoxo geopolítico moldado em concreto. Entre as décadas de 1950 e 1980, surgiu aqui um modernismo híbrido: socialista na escala, mas dissidente na estética. Enquanto o realismo socialista soviético erguia palácios neoclássicos para glorificar o Estado, a Iugoslávia de Tito, livre da Cortina de Ferro, abraçou o brutalismo e o regionalismo crítico. Edifícios como o Elektroprivreda Building (1978), de Ivan Štraus, com suas f...
Esta página é um arquivo virtual que reúne minhas reflexões sobre minha mobilidade acadêmica na Bósnia e Herzegovina durante os anos de 2023 e 2024. Os textos aqui apresentados são impressões pessoais, não se propondo a representar a realidade de forma absoluta, mas um convite à reflexão sobre essa experiência.