Há algo de profundamente paradoxal na política da Bósnia e Herzegovina. É um país que existe sob o signo de um acordo de paz, mas onde a paz, em certos momentos, parece mais uma trégua administrativa do que uma reconciliação verdadeira. O sistema político bósnio não é simplesmente complicado, ele é deliberadamente intrincado, como um mecanismo de relojoaria projetado para evitar que os ponteiros voltem a marcar a hora da guerra. O Alto Representante, figura quase orwelliana, personifica esse paradoxo. Nomeado por instâncias internacionais, ele tem o poder de demitir políticos, revogar leis e até intervir em instituições locais. É uma autoridade que não emana do voto, mas do trauma. E, no entanto, essa tutela externa é ao mesmo tempo um remédio e um sintoma: a comunidade internacional, que ajudou a parar o conflito, ainda não confia plenamente na capacidade dos bósnios de governarem-se sem supervisão. Há quem diga que o cargo é necessário; há quem murmure que é um veto disfarçado à sobe...
Esta página é um arquivo virtual que reúne minhas reflexões sobre minha mobilidade acadêmica na Bósnia e Herzegovina durante os anos de 2023 e 2024. Os textos aqui apresentados são impressões pessoais, não se propondo a representar a realidade de forma absoluta, mas um convite à reflexão sobre essa experiência.