Aprender um idioma para mim é sempre uma grande descoberta. Se tivesse mais tempo me dedicaria mais aos tantos idiomas que gostaria de aprender. Talvez por isso, cada novo vocabulário, cada conjugação difícil ou construção gramatical estranha, se tornem parte de um jogo interessante que se estende além da obrigação, mais para o campo do lazer do que do trabalho. Não sou fluente em nenhuma das línguas que estudo, mas isso nunca foi uma questão. No entanto, ao chegar aqui, em Sarajevo, a língua bósnia-sérvia-croata, que eu mesma, por conveniência, chamei de "balcânico", entrou na minha vida como uma leve exigência do cotidiano, uma pequena chave que abre portas para compreender um pouco mais da realidade que me cerca.
Este idioma não estava entre os primeiros da minha lista de línguas a aprender. Em um primeiro momento, ele parecia distante, uma sequência de sons que não se encaixavam de imediato no meu universo fonético. Mas como tudo em Sarajevo parece ter um sotaque único, uma identidade própria, o "balcânico" foi se tornando inevitável. A rua, o mercado, os cafés, todos esses pequenos espaços da vida cotidiana eram preenchidos por suas palavras duras, com sons que parecem seguir uma lógica própria, mas que de alguma forma me atraem e desafiam.
Comecei a aprender com um pouco de teimosia, motivada pelo desejo de ser compreendida e de compreender. Não se trata de uma questão de fluência, mas de conseguir, de alguma forma, entrar na conversa. São essas pequenas vitórias do cotidiano que me tornam grato ao idioma: um simples pedido de lanche, um "obrigado" sincero, um "desculpe" quando a vergonha toma conta. Até entendo algumas coisas na televisão, algo que me enche de uma satisfação inesperada, uma sensação de que, ao menos, faço parte de uma conversa que é mais ampla do que minha limitada compreensão.
Mas, a verdade é que, embora tenha começado a entender algumas palavras e frases, o processo de me expressar de forma mais fluida parece um desafio que talvez eu não consiga superar. Contar uma história? Me expressar livremente? Largar as amarras da tradução para me sentir dono de uma conversa? Isso ainda me escapa. De certa forma, o idioma, com sua complexidade gramatical, seus casos e suas exceções, acaba sendo um muro a ser transposto, um obstáculo que me mantém à margem do real domínio.
Em minha opinião, o idioma não é bonito de se ouvir, ao menos não da forma como estamos acostumados a apreciar as línguas melodiosas e fluidas de outras partes do mundo. Mas é, sem dúvida, interessante. Digo que não é bonito porque sei que não o acharão belo, mas para mim sim tem sua beleza, especialmente contextualizada. Seu timbre é forte, firme, quase rústico, e isso, ao contrário de afastar, me atrai. Cada palavra parece exigir um esforço, e a sensação que fica é de que, para entender verdadeiramente, é necessário uma imersão profunda, um respeito por uma complexidade que não se revela fácil, mas que, ao mesmo tempo, não se recusa a se mostrar. E talvez seja isso que mais me fascine: o "balcânico" não exige um esforço físico, não nos força a usar a garganta de maneiras que outras línguas mais exigentes fazem, mas, em troca, oferece um desafio mental, como um quebra-cabeça difícil de montar, mas que, ao final, faz total sentido.
Entretanto, a relação que tenho com o idioma também não pode ser dissociada do peso histórico que ele carrega. Sempre que ouço alguém falando em "balcânico", parte de mim se transporta para aquele tempo devastador da guerra. Não importa se a conversa é sobre o clima, a comida ou os esportes; o som daquela língua, muitas vezes, me leva a recordar os dias sombrios da década de 90, a dor e a destruição que marcaram este povo. A nossa memória coletiva é, muitas vezes, implacável, e o idioma, que poderia ser apenas uma ferramenta de comunicação, acaba se tornando um veículo involuntário que nos leva a um passado de sofrimento. Não é algo racional, mas é, sem dúvida, emocional. Um reflexo de como a guerra moldou não apenas a geografia e a política, mas também os sons e os gestos desta terra.
Porém, como se a música pudesse quebrar essa barreira, o "balcânico" se transforma quando a melodia entra em cena. Quando ouço uma canção em bósnio, sérvio ou croata, algo se altera no meu coração. O mesmo idioma que, em conversas cotidianas, pode me parecer árido e pesado, se torna suave, quase acolhedor, quando cantado. O som das notas musicais parece ser o antídoto para os traumas do passado, o bálsamo que suaviza a dureza das palavras. A música me transporta para um lugar de conforto, de uma calma inesperada, e eu me vejo imaginando, quase fisicamente, a sensação de estar sentado em uma poltrona aconchegante, com os pés no chão e uma xícara de café quente nas mãos. O ritmo da canção me embala, e, por um momento, não sou mais um estrangeiro tentando decifrar a língua, mas alguém que, finalmente, consegue sentir a alma da cidade.
O aprendizado da língua, então, se torna uma jornada que vai além do meramente utilitário. Trata-se de um processo de imersão, de sentir a cidade em suas palavras e sons, de perceber que, mesmo com dificuldades, cada tentativa de comunicação é uma pequena vitória. O "balcânico" é um vinho que, como qualquer bom vinho, precisa de tempo para ser apreciado. E, como a boa música, nos exige paciência, mas quando finalmente se faz ouvir, se torna um prazer inestimável. Assim, mesmo com todas as suas dificuldades e limitações, o idioma aqui vivido tem algo que, com o tempo, começa a fazer sentido e, quem sabe, até mesmo a tocar a alma de quem se permite ouvir.
O idioma, como a cidade, carrega sua história, suas cicatrizes e suas belezas. E talvez, no fim das contas, isso seja o mais belo que eu posso aprender.
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