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Meddgugoriej 08 02

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10. As Novas Fronteiras da Bósnia: O Impacto da Migração e das Comunidades Imigrantes 03 02

  10.  As Novas Fronteiras da Bósnia: O Impacto da Migração e das Comunidades Imigrantes Além da diáspora tradicional, a Bósnia tem experimentado um influxo de imigrantes e refugiados de outros países, especialmente dos campos de guerra no Oriente Médio. Como isso está afetando a dinâmica social e política do país? Quais são as interações entre os bósnios e essas novas comunidades? Há uma reconfiguração da identidade bósnia nesse contexto?

8. O Impacto da Globalização na Juventude Bósnia: Entre a Tradição e a Modernidade 30 01

  8.  O Impacto da Globalização na Juventude Bósnia: Entre a Tradição e a Modernidade A juventude bósnia vive uma realidade de tensão entre o legado da guerra e a pressão de se inserir num mundo globalizado. Como os jovens lidam com as expectativas de seguir a tradição local versus se integrar em um mundo mais moderno e conectado? Como isso afeta suas escolhas de carreira, identidade e até as suas visões políticas?

6. A Bósnia e o "Efeito da Vingança": Como a Memória de Guerra Molde a Política Externa 29 01

  6.  A Bósnia e o "Efeito da Vingança": Como a Memória de Guerra Molde a Política Externa A Bósnia tem uma história marcada pela busca de justiça, mas também pela revitimização. Como o trauma da guerra ainda influencia suas relações com países vizinhos, como a Croácia e a Sérvia, e até mesmo com as potências internacionais? Como o país lida com a narrativa de vingança, reconciliação e justiça nas suas relações exteriores?

3. A "Economia da Esperança": Iniciativas Sociais e Comunitárias Pós-Guerra 25 01

  3.  A "Economia da Esperança": Iniciativas Sociais e Comunitárias Pós-Guerra Muitas comunidades, embora enfrentando grandes dificuldades econômicas, estão se reorganizando através de iniciativas sociais, cooperativas e projetos de solidariedade. Como essas iniciativas, muitas vezes pequenas e locais, tentam resgatar a confiança e a coesão social em uma Bósnia fragmentada?

2. As Cartografias do Conflito: Fronteiras Invisíveis e o Mapa Étnico da Bósnia 22 01

  2.  As Cartografias do Conflito: Fronteiras Invisíveis e o Mapa Étnico da Bósnia Uma reflexão sobre como as "fronteiras invisíveis" da Bósnia, estabelecidas pela guerra e pelos acordos de Dayton, ainda moldam as relações sociais. Como as divisões étnicas persistem em "mapas mentais" e territoriais, além dos limites geográficos visíveis? Como isso influencia as dinâmicas políticas e sociais do país?

A Arquitetura da Guerra: Como a Bósnia Está Reconstruindo Seu Passado 18 01

  A Arquitetura da Guerra: Como a Bósnia Está Reconstruindo Seu Passado Além da reconstrução material das cidades após a guerra, você poderia explorar como a arquitetura e o urbanismo refletem a tentativa de reconstrução social e política do país. Como os espaços públicos e privados foram reformulados, e como os edifícios danificados pela guerra se tornaram símbolos de resistência, memória ou divisão?

As Geometrias da Memória: Arquitetura Iugoslava na Bósnia e os Ecos de Brasília

O sol da tarde desenha ângulos agudos sobre os blocos de concreto de Gbravica, em Sarajevo. Caminho entre edifícios que se erguem como esculturas funcionais, linhas retas, varandas suspensas, pilotis que sustentam não apenas estruturas, mas histórias. Há algo de profundamente familiar neste cenário. Talvez seja a sombra dos pilotis, idênticos aos da Asa Norte de Brasília, onde nasci. Ou talvez seja o ritmo das fachadas, aquela gramática modernista que fala uma língua que meu corpo reconhece antes mesmo que minha mente decifre. A arquitetura iugoslava na Bósnia é um paradoxo geopolítico moldado em concreto. Entre as décadas de 1950 e 1980, surgiu aqui um modernismo híbrido: socialista na escala, mas dissidente na estética. Enquanto o realismo socialista soviético erguia palácios neoclássicos para glorificar o Estado, a Iugoslávia de Tito, livre da Cortina de Ferro, abraçou o brutalismo e o regionalismo crítico. Edifícios como o Elektroprivreda Building (1978), de Ivan Štraus, com suas f...

Entre Sons e Palavras: O Prazer de Aprender o Balcânico

Aprender um idioma para mim é sempre uma grande descoberta. Se tivesse mais tempo me dedicaria mais aos tantos idiomas que gostaria de aprender. Talvez por isso, cada novo vocabulário, cada conjugação difícil ou construção gramatical estranha, se tornem parte de um jogo interessante que se estende além da obrigação, mais para o campo do lazer do que do trabalho. Não sou fluente em nenhuma das línguas que estudo, mas isso nunca foi uma questão. No entanto, ao chegar aqui, em Sarajevo, a língua bósnia-sérvia-croata, que eu mesma, por conveniência, chamei de "balcânico", entrou na minha vida como uma leve exigência do cotidiano, uma pequena chave que abre portas para compreender um pouco mais da realidade que me cerca. Este idioma não estava entre os primeiros da minha lista de línguas a aprender. Em um primeiro momento, ele parecia distante, uma sequência de sons que não se encaixavam de imediato no meu universo fonético. Mas como tudo em Sarajevo parece ter um sotaque único, u...

Sarajevo sob a Sombra do Carvalho com Alija Izegobovitch

A Última Lição de Alija Izetbegović Sarajevo acorda envolta em névoa, essa mortalha úmida que parece proteger as cicatrizes da cidade. No cemitério de Kovači, onde as lápides brancas se alinham como um exército silencioso, busco o túmulo de mármore verde. Ali repousa Alija Izetbegović, jurista, poeta e comandante involuntário, cuja vida é um espelho partido refletindo os paradoxos dos Bálcãs. O ar cheira a café turco e terra lavada pela chuva noturna. Nas ruas íngremes, turistas fotografam cafés da moda enquanto senhoras de xale negro depositam crisântemos nos túmulos dos šehids, os mártires. Esta é a coreografia diária de uma cidade que aprendeu a dançar sobre suas feridas. No Museu Alija Izetbegović, um exemplar gasto de O Islã entre Oriente e Ocidente jaz aberto sob vidro. As margens rabiscadas revelam um homem que debatia Spengler e Rumi enquanto a Iugoslávia desmoronava. "Para ele, a Bósnia não deveria ser trincheira, mas ponte", sussurra o curador, apontando para a foto...

Iugonostalgia:Tito e as Sombras da Iugoslávia

Para quem vem de terras longínquas como eu, ir de Sarajevo para Belgrado não é mistério. Pelo contrário, é mesmo perto e recomendável. Aproveitei o período de mobilidade em Sarajevo para ficar um mês em Belgrado, antiga capital da Iugoslávia - não podia perder essa chance. Afinal, nasci em uma época curiosa em que a Iugoslávia era entendida como o meio do caminho, entre o mundo desenvolvimento e o mundo em desenvolvimento, o chamado países do segundo mundo. Em Belgrado, o frio fazia com o que o dia estivesse maravilhoso. O murmúrio da vida cotidiana me trouxeram uma sensação inesperada de nostalgia, aquele tempo que não volta mais, mas está ali em algum registro da nossa história. Não é uma saudade qualquer, mas uma nostalgia cheia de camadas e ambiguidades, uma espécie de iugonostalgia, saudade da antiga Iugoslávia. Um país que, embora não exista mais, ainda paira sobre a memória coletiva da região e de muitos como eu que tiveram a oportunidade de acompanhar a Iugoslávia pela TV e pel...

O Legado de Gazi Husrev Bey na Jerusalém da Europa: Sarajevo

Hoje resolvi sair para um passeio a pé com um colega local da Universidade. Foi uma dessas manhãs claras que se desdobram lentamente, como se o tempo estivesse de acordo com a cidade, suave e sem pressa. Fomos fazer uma caminhada e à medida que a conversa fluía entre cafés e palavras, ele, com seu entusiasmo característico, começou a falar sobre a história da cidade. Eu, de certa forma, já sabia o essencial, mas o que ele me disse em frente à imponente mesquita de Gazi Husrev Bey mexeu comigo de uma maneira que ainda não consegui definir completamente. Gazi Husrev Bey não era apenas um nome, mas uma presença tangível, um pilar. Nascido em Serres, ele não apenas liderou expedições militares e expandiu os domínios do Império Otomano em regiões distantes, como Croácia e Hungria, mas também, e talvez mais importante, deixou uma marca profunda na Sarajevo moderna. Uma marca feita de pedras, tijolos e, de certa forma, de destino. Foi ali, em frente à sua mesquita, que meu amigo mencionou com...

O Enigma Bósnio: Democracia, Étnica e o Peso das Sombras

Há algo de profundamente paradoxal na política da Bósnia e Herzegovina. É um país que existe sob o signo de um acordo de paz, mas onde a paz, em certos momentos, parece mais uma trégua administrativa do que uma reconciliação verdadeira. O sistema político bósnio não é simplesmente complicado, ele é deliberadamente intrincado, como um mecanismo de relojoaria projetado para evitar que os ponteiros voltem a marcar a hora da guerra. O Alto Representante, figura quase orwelliana, personifica esse paradoxo. Nomeado por instâncias internacionais, ele tem o poder de demitir políticos, revogar leis e até intervir em instituições locais. É uma autoridade que não emana do voto, mas do trauma. E, no entanto, essa tutela externa é ao mesmo tempo um remédio e um sintoma: a comunidade internacional, que ajudou a parar o conflito, ainda não confia plenamente na capacidade dos bósnios de governarem-se sem supervisão. Há quem diga que o cargo é necessário; há quem murmure que é um veto disfarçado à sobe...

A Música que Transita Entre o Ocidente e o Oriente em Sarajevo

  Em Sarajevo, esta cidade onde as ruas respiram história e as culturas se encontram em uma dança eterna, a música parece ser uma das formas mais poderosas de traduzir a alma de um povo. Foi num desses momentos de descoberta inesperada que fui seduzido por uma melodia suave enquanto degustava uma sopa quente e alguns ustipčići, um prato simples, mas reconfortante. O ambiente do restaurante, acolhedor e familiar, era o lugar ideal para um encontro casual com algo novo, algo que a cidade queria me mostrar. A música, que me parecia vinda de tempos passados, estava ali, fluindo suavemente entre os arranjos modernos e as raízes profundas de um passado turco-bálcânico. Ao perguntar à moça que nos servia, ela sorriu e me disse, como quem compartilha um segredo antigo: "É Dino Merlin, um cantor muito querido aqui na Bósnia". Aquelas palavras marcaram o início de uma jornada musical que, sem eu saber, me levaria a entender mais sobre a Bósnia do que qualquer livro ou história poderia ...

As lápides que falam ladino em Sarajevo

O vento cortante das montanhas balcânicas levanta a poeira do cemitério judeu mais antigo dos Balcãs. Caminho entre lápides que descem a colina de Kovači como um rebanho de pedras cansadas. De repente, paraliso: ali, gravado no mármore musgoso, brilha o nome "PEREIRA". Mais adiante, "CARDOZO" emerge sob líquenes. Depois "BENVENISTE". São sílabas familiares em terra estranha, ecos de um Portugal e Espanha que estas ossadas carregaram no exílio. Coloco a mão sobre as letras gélidas. Neste instante, cinco séculos desmoronam. Foi em 1492, enquanto Colombo navegava para o desconhecido, que os primeiros navios de judeus sefarditas expulsos pela ânsia purificadora dos Reis Católicos atracaram em Dubrovnik. O sultão otomano Bayezid II, pragmático e visionário, enviou sua frota ao resgate. Diz a lenda que ao ouvir notícias da expulsão, comentou: "Vocês chamam Fernando de sábio? Ele empobrece seu reino para enriquecer o meu!". Assim chegaram a Sarajevo, mé...

O Violoncelista de Sarajevo: O Som da Resistência

Em 1992, no cerne de uma Sarajevo sitiada pela brutalidade da guerra, um homem fazia da sua música uma forma de resistência, um ato de coragem que, de alguma maneira, transcendia a barbárie à sua volta. O violoncelista de Sarajevo era muito mais que um músico, era um símbolo da capacidade humana de encontrar beleza mesmo nas situações mais desoladoras. A história de Vedran Smailović, transformada na ficção de O Violoncelista de Sarajevo , de Steven Galloway, é uma das mais poderosas metáforas da guerra e da paz. Em meio ao caos dos bombardeios, dos snipers que ceifavam vidas a qualquer momento, o som de um violoncelo tocando o Adágio de Albinoni se tornava, como o próprio autor descreve, uma afirmação da vida diante da morte. Ele tocava por todos os que haviam perdido suas vidas naquele massacre brutal, em uma homenagem aos 22 mortos de um bombardeio indiscriminado. Essa música ressoava como um grito silencioso de resistência, como uma forma de se recusar a ser silenciado pelo horror....

O General Jovan Dviak: A Memória Viva de Sarajevo

Quando, em 2013, desembarquei pela primeira vez em Sarajevo, mal sabia que a cidade me reservava uma das mais comoventes surpresas da minha vida. Era uma tarde de primavera, a cidade respirava tranquilidade, e a Avenida Marechal Tito se desenrolava à minha frente com sua rotina vibrante e marcada pela história. A guia que me acompanhava, uma mulher que parecia carregar no olhar toda a carga emocional de uma cidade que nunca parou de sofrer, interrompeu nosso passeio com uma frase que, até aquele momento, não fazia sentido para mim. “Você sabe quem é aquele senhor?” Ela indicou um homem idoso saindo de um mercado, com sacolas nas mãos, andando lentamente pela calçada. Eu olhei na direção que ela apontava, mas não fazia ideia de quem se tratava. Ela ficou atônita por um momento, como se tivesse sido invadida por uma memória que transbordava em emoção. Então, com um brilho nos olhos, ela disse: “É o general Jovan Dviak. Um herói da guerra.” Sua voz vacilou por um segundo, como se a simple...

A Bósnia e as Epistemologias Locais: Reflexões de Coimbra para Sarajevo

Quando estudei em Coimbra, Boaventura de Sousa Santos era uma referência central em nosso Centro de Estudos. Suas aulas magnas, sempre visitadas com intensidade pelos coelgas, despertaram em mim uma visão mais crítica e profunda sobre o mundo. Aqui em Sarajevo, essas lições adquiriram um contorno particular, especialmente ao me deparar com a complexidade multicultural e pós-conflito da Bósnia. Na Universidade, assim que cheguei e mencionei Boaventura em alguma conversa um dos professores que me acolheu logo perguntou: "Você se refere ao Picasso da Sociologia?" Em tom de grande admiração. Não sabia que ele era lembrado e comentado na Bósnia, o que nos faz pensar a respeito de como um trabalho, teória, escrito, texto, enfim, obra, pode impactar pessoas de diferentes formas ao redor do mundo.  Enfim, conversamos muito sobre Boaventura até chegar ao conceito de "epistemologias do Sul", uma das bandeiras do professor Boaventura que me fazia refletir ali, naquela ocasião,...

Uma Inspiração diplomática na Bósnia: Sérgio Vieira de Mello

Quando decidi me aventurar pelos labirintos das relações internacionais, no distante ano de 2001, era quase inevitável que uma figura como Sérgio Vieira de Mello se tornasse uma referência, fonte de inspiração. Naquela época, ainda imaturo, mal compreendia a profundidade das palavras “missão de paz” ou “humanidade”, peacebuilding ou qualquer outro termo das RI, mas algo nele me tocava e dava perspectiva, visão. Talvez fosse o olhar de um homem que não se limitava a defender um país ou uma ideologia, mas se dedicava àquilo que ele considerava ser o maior de todos os serviços: a construção de um mundo melhor, mais justo, mais humanitário. Pouco pensei em ser diplomata ao longo de meus estudos, pois havia um anseio pelas Nações Unidas, ainda que com o passar do tempo isso tenha tomada outras direções. Sérgio, com seu sorriso discretamente seguro e sua postura serena, possuía algo que transcendia a diplomacia tradicional para mim. Não era apenas um diplomata, não era apenas um “servidor da...